10 doenças transmitidas por alimentos

Doenças transmitidas por alimentos, mais comumente conhecidas como DTAs, são causadas pela ingestão de alimentos ou bebidas contaminados. Existem mais de 250 tipos de DTAs e a maioria são infecções causadas por bactérias e suas toxinas, vírus e parasitas. Outras doenças são envenenamentos causados por toxinas naturais (ex. cogumelos venenosos, toxinas de algas e peixes) ou por produtos químicos prejudiciais que contaminaram o alimento (ex. chumbo, agrotóxicos).  Confira abaixo 10 doenças transmitidas por alimentos.

 10- E-coli

E-coli (ou Ecoli 0157: H7) é uma bactéria que vive no intestino humano e animal e que produz toxinas que levam a doenças em seres humanos. Principais fontes de bactérias são alimentos, água, animais e pessoas.  Embora a doença geralmente desapareca dentro de 1 semana, pode ocorrer insuficiência renal, quando não tratada.

A presença da E.coli em água ou alimentos é indicativa de contaminação com fezes humanas (ou mais raramente de outros animais). A quantidade de E.coli em cada mililitro de água é uma das principais medidas usadas no controlo da higiene da água potável municipal, preparados alimentares e água de piscinas. Esta medida é conhecida oficialmente como índice coliforme da água.

A estirpe de E.coli que existe normalmente nos intestinos de um determinado indivíduo é bem conhecida e controlada pelo seu sistema imunitário, e raramente causa problemas excepto quando há debilidade do indivíduo. A maioria das doenças é devido a E.coli vindas de indivíduos diferentes e portanto de estirpe diferente, não reconhecida pelos linfócitos

As intoxicações alimentares em particular são quase sempre devidas a bactérias de estirpes radicalmente diferentes. É por este motivo que é raro um Europeu, por exemplo apanhar intoxicação alimentar de uma E.coli existente noutro país da Europa, porque mesmo uma E.coli do Reino Unido é suficientemente parecida com uma de Portugal para um português não apanhar intoxicação quando ingere uma salada mal lavada nesse país. 

Pela mesma razão um brasileiro não apanha intoxicações alimentares na Argentina e com certeza apanharia uma intoxicação alimentar severa ao ingerir uma salada mal lavada em Portugal e, com ela, uma E.coli para a qual não tem defesas. 

No entanto, se um português ou inglês for a um país distante, como por exemplo ao México, facilmente pode ingerir uma E.coli para a qual não tem defesas e apanhar uma intoxicação alimentar severa numa salada mal lavada que um mexicano na mesa ao lado ingere sem consequências.

O subgrupo ETEC é responsável pela grande maioria das intoxicações alimentares entre turistas e viajantes. Ao todo a E.coli causa 50% destes casos. A prevenção é comer alimentos totalmente cozidos, evitar saladas ou lavar muito bem as verduras e beber apenas água mineral ou outras bebidas oferecidas em recipiente selado.

9- Listeria

A listéria causa uma infecção chamada listeriose, que tem alto índice de mortalidade. No Brasil, o controle da bactéria deixa a desejar se comparada aos EUA. A listéria (Listeria monocytogenes) é uma bactéria móvel, resistente ao congelamento e outras condições adversas, sobrevive por longos períodos em indústrias processadoras de alimentos e áreas manipuladoras de alimentos e está amplamente distribuída na natureza. 

A maior incidência de listéria está associada aos surtos de doenças transmitidas por alimentos.
A Listeria monocytogenes sobrevive no homem, que pode ser contaminado através do solo, estrume, carrapatos, geladeiras, vegetação, frutas, legumes, água (rios, lagos, mar, etc), mamíferos, aves domésticas e silvestres, peixes, crustáceos, moluscos, rãs, esgotos tratados ou não e fábricas processadoras de carnes, leites e derivados.

A infecção por listéria, chamada de listeriose, apresenta uma alta taxa de mortalidade. Ela é a causa de 38% dos óbitos nos EUA relacionados a doenças de origem alimentar (Mead et al., 1999). Segundo dados do CDC (Center for Disease Control and Prevention), órgão do governo norte-americano ligado ao HHS (Department of Health and Human Services), cerca de 2,5 mil casos de listeriose são registrados anualmente nos EUA, sendo que 90% deles levam a hospitalizações e 20% deles levam a óbitos.

No Brasil, a única legislação que exige o controle de listéria em alimentos processados é destinada a queijos de alta umidade, como ricota, meia cura e minas. O Programa de Redução de Patógenos da Anvisa contempla atualmente apenas o controle da Salmonella. No caso de relatos de infecções alimentares, o único que se obriga de médicos e hospitais é com relação àquelas provocadas pela bactéria Clostridium botulinum, que causa o botulismo.

É possível eliminar 100% de listéria, desde que se tenham instalações adequadas aos processos de higiene e que procedimentos como desinfecção, higienização, boas práticas de fabricação, manter o refrigerador limpo, evitar produtos fora do prazo de validade, aquecer sobras a temperaturas elevadas, etc, sejam seguidos.

Para evitar a contaminação deve-se controlar a temperatura e o tempo de exposição dos alimentos, higienizar o ambiente e os utensílios de trabalho e manter hábitos corretos de higiene pessoal, como tomar banho todos os dias, lavar os cabelos regularmente, manter as unhas limpas e aparadas, escovar os dentes após as refeições e lavar sempre as mãos;

* Deve-se lavar as mãos várias vezes ao dia, como: antes de iniciar o trabalho, toda vez que trocar de atividade, antes e após usar o banheiro, após fumar, antes de vestir luvas, após qualquer operação de limpeza, ao tocar boca, nariz e cabelo e sempre que estiverem sujas. A forma correta de lavar as mãos é umedecê-las com água, aplicar sabonete, esfregar pelo menos por um minuto mãos, antebraços, dedos e unhas, enxaguar e secar com papel toalha de boa qualidade (não reciclado) ou ar quente;

* Para trabalhar corretamente com alimentos, deve-se também não utilizar jóias e bijuterias (pois elas podem ser esconderijos de microrganismos, além do perigo de caírem nos alimentos) e cobrir bem eventuais ferimentos (dependendo da gravidade dos mesmos, deve-se até evitar a manipulação de alimentos);

* Se os alimentos não apresentam boas condições de cheiro e aspecto, o melhor é descartá-los. Tente manipulá-los o menos possível e, se necessário, separe-os por semelhança (carne com carne, frutas com frutas, etc);

* Na hora de estocar, nunca guarde ou trabalhe com alimento cru perto de alimento pronto para o consumo; não guarde alimentos misturados, nem os acomode no chão. No freezer (-18ºC), deixe os alimentos com as etiquetas de validade voltadas para frente e siga sempre o princípio: o primeiro que vence é o primeiro que sai;

* Armário sujo e desorganizado é grande fonte de contaminação. Evite guardar roupas sujas junto com limpas, mantenha os sapatos separados das roupas e nunca guarde alimentos no seu armário. Roupas sujas devem ser imediatamente levadas para lavar;

* Higienizar é fundamental. Higienização = Limpeza + Desinfecção. Limpeza é a remoção de sujidades e deve ser feita com um detergente. Desinfecção é a eliminação dos microrganismos e deve ser feita com um desinfetante. Antes de desinfetar é preciso limpar. São seis passos: remover as sujidades, aplicar o detergente, enxaguar com água potável, aplicar o desinfetante, enxaguar com água potável e deixar secar naturalmente.

8- Vaca Louca

A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), mais conhecida como Doença ou Mal da Vaca Louca, atinge o sistema nervoso de bovinos, fazendo com que fiquem com o comportamento alterado. Daí vem o nome popular "Vaca Louca".

Além de causar a morte de animais do rebanho, há o risco de transmissão ao homem, pois a doença é uma zoonose. Os primeiros casos da doença ocorreram na Europa em 1986. Em 24 países, 189.544 casos, sendo só na Inglaterra 183.765 casos. Também já foram registrados casos em outros continentes, 5.779 casos. Já no Brasil nunca foram registrados casos dessa doença!

Uma proteína chamada Prion, que pode ser transmitida aos bovinos e caprinos quando alimentados com ração contendo farinha de carne e ossos de animais infectados com a doença. A principal forma de transmissão da doença é pela ingesta desses ingredientes. A transmissão não ocorre geneticamente nem horizontalmente (de animal para animal).
Nós seres humanos podemos ser contaminados, se comermos a carne de um animal que tenha contraído a doença. Mas não nos preocupemos, pois essa doença nunca ocorreu no Brasil!

 Mas por que essa doença não ocorre no Brasil? Porque nosso sistema de engorda e criação de bovinos é quase que exclusivamente a pasto, e a suplementação alimentar que damos ao gado é à base de proteína vegetal, como soja, milho e caroço de algodão.

Além disso, desde o aparecimento da doença na Europa o Serviço Oficial de Defesa Sanitária Animal do Brasil adotou medidas para evitar a introdução da doença da Vaca Louca no país, tais como a proibição de importação de animais e seus produtos vindos de países com registro da doença, e a proibição do uso de proteína animal na alimentação de ruminantes.

Em 1996 foram diagnosticados os primeiros casos de vCJD (variante Creutzfeldt-Jakob Disease) no Reino Unido, e pesquisas posteriores identificaram relação entre o consumo de produtos derivados do tecido do sistema nervoso central de bovinos infectados com EEB e a ocorrência dessa doença em humanos. 

Até a presente data foram diagnosticados 178 casos dessa enfermidade em diversos países do mundo (Reino Unido, França, Irlanda, Itália, Holanda, Japão, EUA e Canadá). A vCJD atinge principalmente pessoas com menos de 55 anos, inclusive adolescentes, e os sintomas incluem depressão e perda de coordenação motora, evoluindo para demência. A doença dura cerca de 14 meses e leva os pacientes a óbito!

7- Hepatite A

Infecção provocada pelo vírus da Hepatite A (VHA) que entra no organismo através do aparelho digestivo e multiplica-se no fígado, causando neste órgão a inflamação denominada hepatite A. A descoberta do vírus ocorreu em 1975, todavia, na Antiguidade, já se registavam surtos da doença, na altura chamada «icterícia infecciosa», e eram frequentes as epidemias em períodos de guerra e de cataclismos.  

A hepatite A transmite-se de pessoa para pessoa quando os alimentos ou a água estão contaminados por dejectos contendo o vírus, daí que seja mais frequente em países menos desenvolvidos, devido à precariedade do saneamento básico, e incida, principalmente, em crianças e adolescentes (50 por cento dos casos acontece antes dos 30 anos).

Em quase metade dos casos de hepatite provocados pelo VHA, não se consegue identificar a origem do contágio, mas esta doença transmite-se, geralmente, através da ingestão de alimentos ou de água contaminados por matérias fecais contendo o vírus. 

Quando o risco é grande, a prevenção ganha ainda maior importância, portanto, numa viagem por países da Ásia, África ou da América Central e do Sul os cuidados devem ser redobrados: beber água, só se esta for potável (o engarrafamento é, em princípio, uma garantia de qualidade) comer, só alimentos cozids, os crus podem estar contaminados, em especial, nos países onde a doença é endémica, mas se a vontade for grande deve ser o próprio a descascar a fruta, por exemplo, ou, então, optar apenas por produtos embalados. E, claro, deve-se evitar o marisco, uma vez que a sua origem pode ser difícil de determinar e a cozedura em vapor não neutraliza o vírus.

O marisco, por exemplo, pode representar um perigo se a sua proveniência for um viveiro contaminado por água de esgotos, pois, as ostras, os mexilhões e as amêijoas concentram o vírus existente no seu habitat, transmitindo assim esta hepatite.

As frutas, os vegetais e as saladas, ou outros alimentos que estejam crus, se manipulados por uma pessoa infectada ou lavados com água imprópria para consumo podem ser contaminados e, consequentemente, contagiar aqueles que os ingerem.

A taxa de transmissão entre os membros da mesma família é de 20 por cento nos adultos e 45 nas crianças. As crianças são, muitas vezes, um veículo transmissor inesperado, já que transmitem o vírus sem se suspeitar que estão doentes por não apresentarem, na maioria das situações, quaisquer sintomas. São raros os casos de contágio por transfusão de sangue ou por via sexual.

As pessoas infectadas podem contagiar outras durante o tempo em que o vírus está a ser expelido do organismo juntamente com as fezes; com efeito, o risco de contágio é maior no período de incubação e na primeira semana em que se revelam os sintomas. Uma viagem a um país onde as condições sanitárias são deficientes ou a doença é endémica também pode contribuir para a ingestão do vírus. Durante a gravidez, o feto não corre quaisquer perigos se a mãe estiver infectada com o VHA.

Nos países desenvolvidos as epidemias de hepatite A são raras, embora possam acontecer, numa pequena dimensão, em creches, escolas, quartéis ou outro tipo de colectividade. As pessoas contaminadas recuperam por completo, de uma maneira geral, ao fim de cerca de três semanas. 

Grupos de risco

  • Familiares de pessoas infectadas
  • Pessoas que não estejam vacinadas ou que não tenham os anticorpos necessários
  • Médicos e paramédicos que trabalhem em hospitais
  • Viajantes para países menos desenvolvidos onde a doença é endémica
  • Toxicodependentes que usam agulhas não esterilizadas
  • Tratadores de macacos
  • Pessoas que trabalham na recolha e processamento de lixo e nos esgotos
  • Homossexuais masculinos
  • Frequentadores e pessoal que trabalha em instituições comunitárias, nomeadamente infantários, escolas, refeitórios, entre outras 

6- Salmonelose

Salmonelose é uma doença infecciosa provocada por um grupo de bactérias do gênero Salmonella, que pertencem à família Enterobacteriaceae, existindo muitos tipos diferentes desses germes. A Salmonella é conhecida há mais de 100 anos e o termo é uma referência ao cientista americano chamado Salmon, que descreveu a doença associada à bactéria pela primeira vez.

A Salmonella é transmitida ao homem através da ingestão de alimentos contaminados com fezes animais. Os alimentos contaminados apresentam aparência e cheiro normais e a maioria deles é de origem animal, como carne de gado, galinha, ovos e leite. Entretanto, todos os alimentos, inclusive vegetais, podem tornar-se contaminados. É muito freqüente a contaminação de alimentos crus de origem animal. O cozimento de qualquer destes alimentos contaminados mata a Salmonella.

A manipulação de alimentos por pessoas contaminadas que não lavam as mãos com sabonete, pode causar sua contaminação.
Fezes de animais de estimação, especialmente os que apresentam diarréia, podem conter Salmonella, e as pessoas em contato com estes animais podem ser contaminadas e contaminar a outras se não adotarem medidas rígidas de higiene (lavar as mãos com sabonete). 

Répteis são hospedeiros em potencial para a Salmonella e as pessoas devem lavar as suas mãos imediatamente após manusear estes animais, mesmo que o réptil seja saudável.

A maior parte das pessoas infectadas com Salmonella apresenta diarréia, dor abdominal (dor de barriga) e febre. Estas manifestações iniciam de 12 a 72 horas após a infecção. A doença dura de 4 a 7 dias e a maioria das pessoas se recupera sem tratamento. Em algumas pessoas infectadas, a diarréia pode ser severa a ponto de ser necessária a hospitalização devido à desidratação. 

Os idosos, crianças e aqueles com as defesas diminuídas (diminuição da resposta imune) são os grupos mais prováveis de ter a forma mais severa da doença. Uma das complicações mais graves é a difusão da infecção para o sangue e daí para outros tecidos, o que pode causar a morte caso a pessoa não seja rapidamente tratada.

Muitas doenças podem causar as mesmas manifestações que a salmonelose, sendo o diagnóstico, na maior parte das vezes, associado à história alimentar recente. A comprovação de que as manifestações clinicas são causadas pela Salmonella só pode ser feita pela identificação do germe nas fezes da pessoa infectada e é útil somente nos casos mais graves, em que a administração de antibiótico se faz necessária. 

Este teste usualmente não é realizado em um exame comum de fezes, sendo necessário uma instrução específica ao laboratório para a procura do germe nas fezes. Uma vez identificado pode ser realizada a cultura das fezes para a determinação do tipo específico e qual antibiótico deve ser utilizado para o tratamento.

A infecção por Salmonella usualmente dura de 5 a 7 dias e freqüentemente não é necessário tratamento, sendo suficiente as medidas de suporte e conforto ao paciente. Após este período, a pessoa fica recuperada, podendo permanecer ainda por algum tempo um hábito intestinal irregular. 

Caso o paciente se torne severamente desidratado ou a infecção se difunda do intestino para outras regiões do organismo, medidas terapêuticas devem ser tomadas, incluindo a hospitalização. 

Pessoas com diarréia severa devem ser reidratadas através da administração endovenosa de soro. Os casos graves, em que a infecção se difunde, devem ser tratados com antibióticos.

Como se previne:
 
  • Sendo os alimentos de origem animal uma das principais fontes de contaminação por Salmonella, ovos, carne e galinha não devem ser ingeridos crus, mal-passados ou não completamente cozidos.
  • Atenção especial deve ser dada aos ovos crus que aparecem sem serem percebidos em um grande número de pratos, como maionese caseira, molho holandês, tiramisu, sorvete caseiro. Estes pratos devem ser evitados.
  • Carnes em geral, incluindo hambúrgueres e frango, devem ser bem cozidas (não devem estar avermelhadas no centro). Leite não pasteurizado deve ser evitado.
  • Todos os produtos devem ser bem lavados antes de sua preparação e consumo.
  • Contaminação entre alimentos deve ser evitada: carnes cruas devem ficar separadas de alimentos que estão sendo preparados, de alimentos já cozidos e de alimentos prontos para serem servidos.
  • Todos os utensílios de cozinha (tábuas, facas, etc.) devem sempre ser lavados após sua utilização em alimentos crus.
  • As mãos devem ser lavadas antes do manuseio de qualquer alimento e entre o manuseio de diferentes itens alimentares.
Já que os répteis são portadores em potencial da Salmonella, qualquer pessoa deve lavar as mãos imediatamente após o contato com estes animais.
Répteis, incluindo as tartarugas, não são apropriados como animais de estimação de crianças e não deveriam habitar o mesmo ambiente.

5- Norovírus

Norovírus (ex-agente de Norwalk) é um vírus RNA ( taxonômico da família Caliciviridae ), que causa aproximadamente 90% da epidemia não-bacteriana de gastroenterite em todo o mundo e pode ser responsável por 50% de todos os surtos de origem alimentar  de gastroenterite nos EUA. Norovírus afeta pessoas de todas as idades. 

Os vírus são transmitidos por fezes, alimentos ou água contaminadas, por pessoa para pessoa e contaminação posterior de superfícies. Após a infecção , a imunidade para norovírus geralmente é incompleta e temporária.  Há um predisposição hereditária à infecção e os indivíduos com sangue tipo O são mais frequentemente infectados, enquanto os tipos de sangue B e AB pode conferir proteção parcial contra a infecção sintomática. 

Surtos de infecção do norovírus ocorrem frequentemente em lugares fechados ou parcialmente fechados, como acampamentos durante a noite, hospitais, prisões, dormitórios, e navios de cruzeiro, onde a infecção se espalha muito rapidamente ou por transmissão pessoa a pessoa ou através de alimentos contaminados.  Muitos surtos de norovírus foram encontrados na comida que era manipulada por uma pessoa infectada.

Mariscos e saladas são os alimentos mais frequentemente implicados em surtos de norovírus. A ingestão de mariscos que não foram suficientemente cozidos, representa um alto risco de infecção de norovírus.

Apesar de ser pouco conhecido do público é um importante causador de gastroenterites não-bacterianas no Brasil.

A transmissão de pessoa para pessoa ocorre com facilidade. Diferentemente de outros vírus causadores de gastroenterites (como o rotavírus), o norovírus afeta com frequência indivíduos adultos.

Os norovírus estão muito associados a surtos em locais confinados ou de contato próximo, numa mesma família, em navios, asilos e ambientes hospitalares, por exemplo.

"Os norovírus hoje são um problema mundial, por sua rápida transmissão e difícil controle. Eles são responsáveis por 99,9% dos surtos de gastroenterites em navios," afirma o virologista José Paulo Gagliardi Leite, chefe do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do Instituto Oswaldo Cruz.

Transmissão do norovírus

O norovírus tem alta infecciosidade: apenas uma partícula viral é necessária para infectar uma pessoa. O contato com o aerossol do vômito de uma pessoa infectada, por exemplo, pode ser suficiente para a transmissão.

Além disso, tem alta resistência, permanecendo em superfícies com as quais uma pessoa infectada teve contato, o que torna o compartilhamento de espaços e objetos um problema.

A facilidade de transmissão do vírus dificulta muito o controle de surtos. Nestes casos, deve-se buscar a fonte da contaminação e combatê-la.

"O principal risco é a manipulação dos alimentos", informa Marize. Ela esclarece que a lavagem das mãos é fundamental para evitar a transmissão do norovírus.

Gastroenterites virais

As gastroenterites virais são transmitidas por meio de água contaminada, alimentos manipulados por pessoas infectadas ou contato direto com o material fecal de uma pessoa doente.

Existem diversos vírus responsáveis pela etiologia das gastroenterites, com destaque para rotavírus A, norovírus, adenovírus entéricos e astrovírus. Os sintomas mais comuns são diarreia, vômito, febre e dores abdominais e de cabeça.

A recomendação central é evitar a desidratação e procurar auxílio médico. A gravidade pode variar de pessoa para pessoa, mas, em geral, os sintomas costumam desaparecer depois de dois ou três dias.

Vacina contra o norovírus

Frente à imensa dificuldade no controle da transmissão, o desenvolvimento de uma vacina surge como uma possível solução. Estudos têm sido desenvolvidos nos Estados Unidos com vacinas candidatas.

"Como existe alta variabilidade genética dos norovírus, o desenvolvimento de uma vacina se torna complexo. Talvez, a saída seja o desenvolvimento de uma vacina atualizada periodicamente, acompanhando o monitoramento dos vírus circulantes, como acontece hoje com a vacina da gripe", pondera José Paulo Leite.

No caso dos norovírus, dados sobre a ocorrência de casos assintomáticos ainda são escassos e, como os norovírus circulantes têm alta variabilidade genética, o período de imunidade de uma pessoa à infecção é baixo, já que as reinfecções provavelmente se darão por outros tipos de norovírus.

Vírus recente

O Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC trabalha intensamente na investigação dos norovírus - que a ciência descobriu recentemente, apenas na década de 1970.

Em 2009, os pesquisadores desenvolveram uma metodologia inovadora - a primeira capaz de detectar o norovírus em alimentos, e não em mostras clínicas de pacientes.

No mesmo ano, o laboratório recebeu 13 Laboratórios Centrais (Lacens) do país para o Curso de coleta, acondicionamento e transporte de amostras de agentes para pesquisa de vírus ambientais.

Assim, os Lacens foram capacitados para, ao receberem amostras suspeitas de norovírus em suas áreas de atuação, estarem aptos a enviá-las para análise no laboratório.


4- Clostridium perfringens

Clostridium perfringens (anteriormente conhecida como Clostridium welchii) é uma bactéria, em forma de bastão, anaeróbica e formadoras de esporos. O C. perfringens está onipresente na natureza podendo ser encontrado como um componente normal da vegetação apodrecida, sedimentos marinhos, trato intestinal de seres humanos e outros vertebrados, insetos, e do solo. 

Essa bactéria pode causar enterite quando presente em alimentos contaminados e a gangrena gasosa quando afeta feridas expostas e cirúrgicas. Periodo de incubação: 6 à 24 horas. A contaminação deve-se à exporolação e consequente formação de toxina no intestino delgado após a ingestão de alimentos contaminados. 

Os sintomas são dores abdominais e diarréia. Raramente  se observam vômitos, náuseas ou febre. Os alimentos mais responsáveis pela contaminação são: carnes de vaca e aves, molhos, legumes cozidos e derivados a que se tenha seguido aquecimento lento, permitindo a germinação rápida dos esporos e a produção de toxinas.

Este microrganismo foi descrito inicialmente por Welch em 1892, associado a casos de gangrena gasosa em feridas infectadas, sendo o responsável por inúmeras mortes e mutilações durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1943, na Inglaterra, foi pela primeira vez incriminado como sendo o responsável por surto de toxinfecção alimentar, através da ingestão de carne de frango pré – cozido servido em escola pública, levando a um quadro clínico de severa gastroenterite.

O tempo de incubação varia de 6 a 24h, com mediana de 10 a 12 h, variando em função das condições clínicas do paciente e da quantidade de alimento contaminado ingerida.

Os fatores preponderantes para o desenvolvimento do Clostridium perfringens, são:

O aquecimento inicial do produto (choque térmico), o que leva a ativação do esporo, possivelmente, segundo alguns autores, pela destruição de sua camada externa, formada em grande parte por carbonato de cálcio.


A natureza anaeróbica do organismo permite que este se multiplique nas fendas e cavidades internas de grandes pedaços de carne, esconderijos convenientes onde o oxigênio foi extraído pelo calor do cozimento.



Após a ingestão do alimento contaminado (infectante), ocorrem a multiplicação e esporulação do microrganismo no intestino delgado do hospedeiro, favorecidas pelo pH local, com produção de enterotoxina, sendo esta liberada durante a ruptura da célula vegetativa para liberação do esporo. 

A toxina, após ativação pela tripsina, liga-se a receptores específicos do epitélio intestinal, interagindo com a membrana celular e causando o surgimento de poros pelos quais extravasa o conteúdo celular resultando em diarréia, com grande perda de sódio e potássio, inibindo a absorção de glicose e causando a destruição das microvilosidades. A diarréia dura em média 24 h, período após o qual cessa espontaneamente.

3-  Febre Q

A febre Q é uma zoonose muito contagiosa, causada pelo patogénio intracelular Coxiella burnetii. Muitos animais domesticados e selvagens, tais como mamíferos, aves, répteis e artrópodes, são portadores de C. burnetii

Como é transmitida e propagada a doença?

A C. burnetii pode ser transmitida por inalação de aerossóis ou por contacto directo; pode também ser transmitida por ingestão. As infecções em animais podem persistir durante vários anos ou mesmo durante toda a vida.

A maior parte das infecções humanas estão associadas a bovinos, ovinos e caprinos, sendo contraídas com frequência durante o parto dos animais. Os seres humanos são geralmente infectados através da inalação de aerossóis, mas a transmissão pode também verificar se por ingestão de leite não pasteurizado ou de outros materiais contaminados. 

Os sintomas da doença aguda são semelhantes aos da gripe, podendo incluir febres altas, arrepios, cefaleias, fadiga, mal estar, mialgia, dores de garganta e dores no peito. A doença é frequentemente auto limitada e geralmente tem uma duração que varia entre uma e não mais de três semanas. 

A febre Q crónica, que se desenvolve meses ou anos após a síndrome aguda, é pouco frequente. A endocardite, o sintoma notificado com mais frequência, manifesta se geralmente em pessoas com lesões preexistentes das válvulas cardíacas ou em situação de imunodepressão. 

A maior parte dos casos de doença em seres humanos está associada à exposição a ruminantes, nomeadamente durante os partos. Dado que a ingestão é uma via potencial de exposição, deve ser evitado o consumo de leite e de produtos lácteos não pasteurizados. Podem estar disponíveis vacinas eficazes para as pessoas sujeitas a exposição profissional.

2- Brucelose

A brucelose, também conhecida como febre de Malta, é uma doença infecciosa causada pelas bactérias do gênero Brucella. Essas bactérias são principalmente transmitidas entre animais, e causam brucelose em muitos vertebrados diferentes como carneiro, bode, gado, cervo, porco, cachorro, etc. Os humanos são infectados ao entrar em contato com animais, ou produtos animais, contaminados com essas bactérias.

Em humanos a brucelose pode causar uma gama de sintomas que são similares à gripe, os quais podem incluir febre, suor, dor de cabeça, dor nas costas e fraqueza. Pode também ocorrer infecção grave no sistema nervoso central ou no revestimento do coração. Brucelose também pode ocasionar sintomas crônicos ou de longa duração que incluem febre recorrente, dor nas articulações e fadiga.


Transmissão da brucelose para humanos
 

Os humanos são geralmente infectados de uma dessas três formas: comendo ou bebendo alguma coisa contaminada com Brucella, inalando a bactéria, ou tendo invasão da Brucella no corpo através de feridas. A forma mais comum de ser infectado é comendo ou bebendo leite e derivados contaminados. Quando ovelhas, cabras e vacas são infectadas, seu leite é contaminado com a bactéria. 

Se o leite não for pasteurizado, essas bactérias podem ser transmitidas para pessoas que o beberem ou comerem alimentos feitos dele. A inalação da bactéria não é uma forma comum de infecção. Contaminação por feridas na pele pode ser um problema para certas profissões como veterinários e trabalhadores que lidam com carne em matadouros. Pode-se prevenir a brucelose não consumido leite e derivados que não foram pasteurizados. Não há vacina disponível para a brucelose.

Diagnóstico da brucelose
 

A brucelose é diagnosticada em laboratório ao encontrar a bactéria em amostras de sangue ou medula óssea. Teste de sangue também pode ser feito para detectar anticorpos contra a bactéria. Se esse método for usado, duas amostras de sangue devem ser colhidas com espaço de tempo de duas semanas.

Tratamento para brucelose
 

Para tratamento da brucelose o médico pode prescrever antibióticos por 6 semanas para prevenir infecção recorrente. Dependendo da duração do tratamento e da gravidade da doença, a recuperação pode durar de algumas semanas a vários meses. A mortalidade é baixa (<2%), e geralmente associada com endocardite (infecção na camada que reveste o coração).

1- Shigella

O género Shigella pertence à mesma família da Salmonella e Escherichia. É um gênero de microrganismos em forma de bastão, Gram-negativo, anaérobios facultativo, não formador de esporos, pertencente à família Enterebacteraceae. O gênero contém quatro espécies:

Shigella flexneri;
Shigella sonnei;
Shigella dysenteriae e
Shigella boydii.

Todas causam uma doença humana denominada shigelose. A predominância de cada espécie depende da região geográfica. Assim, nos Estados Unidos predomina a Shigella sonnei, enquanto no Brasil predomina a espécie Shigella dysenteriae.


    * Doenças causadas:

As doenças causadas por organismos do género Shigella provocam infecções entéricas, como disenterias (fezes com sangue). O seu período de incubação é de um a sete dias, geralmente, inferior a quatro, altura em que começam a surgir os primeiros sintomas de gastroenterite.

Este microrganismo é classificado como causador de doenças graves ou crónicas.

    * Alimentos relacionados:

A contaminação de alimentos pelo género Shigella está relacionada com a falta de higiene durante a sua manipulação, sendo que peixes, frutas e vegetais, frango e saladas são os principais veículos desse microrganismo. A predominância desses alimentos é devida à rota fecal-oral da transmissão.




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